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Capitulo 12 | My Favorite Demon | Capitulo 14
O fim da marionetista
Nós humanos temos um defeito terrível: somos
curiosos. Em nossa busca incansável pelo conhecimento acabamos descobrindo
coisas que não queríamos descobrir, desenterrando o que não deveria ser
desenterrado...
Somos criaturas desprezíveis, só esperando a doce
visita da tão temida e aguardada morte. Mas... Seria ela tão ruim assim?
Comparada aos humanos, cruéis humanos, a morte é apenas uma amiga que vem nos
visitar quando não temos mais o que fazer nesse mundo. Nada mais que alguém que
nos impede de perder tempo quando já cumprimos nossa missão…
—
A verdade sempre nos surpreende não é, minha querida? — Marie sussurrou
enquanto amarrava minhas mãos com uma fita — Mas, junto com a surpresa, ela nos
traz uma dúvida: o que vamos fazer com o conhecimento recém-adquirido?
Senti
Marie colocar algo em meus pés, parecia ser uma pantufa do mais fofo algodão de
tão quente e confortável que era… Olhei para a esquerda e vi um par de luvas
brancas iguais as do meu mordomo e logo olhei em volta procurando-o. Em vão.
—
O-onde ele está? — Perguntei, a voz ainda falhando um pouco.
—
Oh, minha querida... Mesmo depois de descobrir a verdade você continua a correr
atrás do pecado? Ainda vai correr atrás daquele que te arrancou tão brutalmente
da sua família? — Ela tocou minha face, os dedos frios escorregando em minha
pele — Aceite a nova vida que estou lhe oferecendo. Me aceite.
Só
quando tentei me soltar foi que percebi como aquela fita era forte, quanto mais
força eu fazia, mais ela me apertava... Meus pés, presos em sabe-se lá o quê,
também não se moviam... Ergui os olhos para Marie, que estava com o rosto a
centímetros do meu e com um sorriso nos lábios que nem o próprio diabo seria
capaz de exibir, seus dentes se tornavam pontudos ao mesmo tempo em que seus
dedos ficavam cada vez mais frios.
Fechei
os olhos.
Direcionei
todos os meus pensamentos para Sebastian, chamei-o com todas as minhas forças
enquanto rezava para um Deus que eu nem lembrava existir. Pouco me importava o
quão hipócrita ou idiota estava sendo, mas quando estamos à beira do abismo nos
agarramos a qualquer luz, mesmo que fraca, para nos salvar.
—
Não feche seus olhos, minha querida. — Ela tocou meus olhos, apertei-os ainda
mais forte me concentrando apenas em chamar Sebastian e orar da melhor forma
que conseguia, mas eles se recusaram a continuar fechados — Quero que veja bem
quando eu arrancar o seu coração impuro...
—
O que diabos é você?! Por que está fazendo isso comigo?! — Berrei, encarando-a
com ódio. Para meu azar, Marie tinha cansado de se fingir de boazinha. —
Sebastian! Venha me salvar, agora!
Gritei
o nome do meu mordomo o mais alto que pude e, nos segundos que se seguiram, fui
invadida por uma esperança cega, que logo desapareceu ao ver o sorriso da
mulher à minha frente.
—
Aquele ser das trevas não vai mais te corromper minha querida... — Marie
sussurrou com a voz suave enquanto se aproximava.
Ela
puxou a parte de cima do meu vestido, arrebentando alguns botões e me permitindo
ver parte de meus seios. Olhei para meu seio esquerdo, ao lado dele estava a
marca do contrato com Sebastian, marca de sua lealdade. Mas... Tinha algo
errado, correntes rubras se formavam lentamente em volta do delicado
pentagrama...
—
Vê? Não há nada mais que ele possa fazer. — Marie sorriu, como que esperando um
agradecimento.
Continuei
olhando para a marca, incrédula, enquanto tentava entender o que estava
acontecendo. Sentia-me mais fraca a cada segundo, como se estivessem sugando
minhas forças aos poucos... Sentia-me
vazia...
Ela...
Ela estava tirando Sebastian de mim...
Paralisei
por um segundo. Meu companheiro, meu fiel salvador, acabara de ser arrancado de
mim. Estava a um passo do meu fim e sequer teria o prazer de ser morta por suas
mãos suaves e frias, assim como não o alimentaria com meu corpo e alma...
—
Vou te transformar em uma linda boneca... Uma linda e pura boneca... — Marie
cantarolava enquanto mexia em algumas ferramentas sobre a mesa ao meu lado. —
Uma boneca com lindas unhas...
Ela
pegou minha mão direita, acariciando-a por um instante antes de finalmente
escolher um dedo e segurá-lo com força. Arregalei os olhos enquanto tentava
soltar minha mão e, ao mesmo tempo, ver o que ela estava planejando. Marie
segurava firmemente um objeto de metal que eu nunca tinha visto na vida: era
como uma pinça com uma lâmina que reluzia mesmo na fraca luz do ambiente de tão
afiada. Ela aproximou-a do meu dedo e, no segundo seguinte, eu já estava
gritando de dor.
Marie
arrancara minha unha com força, sentia o sangue pingar em meu pé enquanto ela
erguia a unha como se fosse um prêmio.
—
Agora só faltam nove. — Ela riu, divertindo-se enquanto jogava a unha na mesa e
escolhia o próximo dedo.
—
Pare... Por favor... — Minha visão já estava turva por conta das lágrimas que
não paravam de surgir. A dor me deixava tonta e o pavor já tinha tomado conta
de mim. — Por favor...
—
Não chore minha querida... O que está sentindo é a pureza tomando conta de seu
corpo novamente... Isto é bom, muito bom! — Ela levou as mãos atrás da cabeça e
começou a desamarrar a venda que cobrira seus olhos até agora. — Veja, eu
também fui purificada anos atrás.
Assim
que a venda caiu a seus pés, Marie ergueu o rosto para mim. O que vi era mais
aterrorizante do que qualquer pesadelo que já tivesse tido ou ainda viria a ter
nesta vida... No lugar de seus olhos, Marie tinha apenas dois buracos vazios, e
olhar para eles era como olhar para um buraco negro que sugava minha alma com
força e sem pudor.
—
O QUE DIABOS É VOCÊ?! — Gritei apavorada enquanto tentava recuar, me afastar
daquela criatura que continuava a me “encarar”, mas a parede atrás de mim não
me ajudava nem um pouco.
—
“O que diabos eu sou?” — Ela repetiu, rindo em seguida. Ela ia dizer algo
quando parou e sorriu. — Parece que temos visita...
Acompanhei
o olhar dela para o outro lado da sala, como que querendo que eu enxergasse
melhor, a lua pareceu brilhar mais forte a partir daquele momento. Foi aí que
eu o vi. Sebastian estava ali.
Seu
uniforme estava rasgado e ele estava mais pálido que o normal, seus olhos que
costumavam ser de um vermelho tão brilhante agora estavam opacos e fundos e
fitavam Marie como um tigre faminto encara sua presa.
—
Sebastian! — Gritei, um misto de surpresa e alívio. Mas ele me ignorou, só
enxergava Marie. — Sebastian?
—
Muito audacioso da sua parte aparecer na casa de uma marionetista... Ainda mais
num estado tão deplorável. — Marie estava de frente para ele agora, de costas
para mim.
Sebastian
não disse uma palavra, seus lábios trincados não eram bom sinal...
—
Luna, feche os olhos. — Sebastian praticamente rosnou sem tirar os olhos de
Marie.
—
Mas...
—
Obedeça.
A
voz de Sebastian era imperiosa, não ousei desobedecê-lo e fechei os olhos no
mesmo segundo. No segundo seguinte, ouvi a voz de Marie; um grito agudo e
apavorado preencheu a sala.
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