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Capitulo 14 | My Favorite Demon | Capitulo 16
Separação
–A que devo a infelicidade da vossa visita? – o homem de cabelos
platinados passou para trás do balcão sem sequer olhar para mim.
–Agradável
como sempre... – sorri sarcasticamente, logo encarando as costas do
homem à minha frente. – Vou direto ao assunto, sabe de algo estranho
sobre o submundo ultimamente?
– Quando o submundo for normal, aí
sim teremos que nos preocupar... – ele me olhou por um instante e logo
voltou a mexer em seus papéis
–Você sabe bem do que eu estou
falando... – disse enquanto caminhava imperiosamente até o balcão, sendo
seguida de perto por Sebastian.
–Sim, sabemos do que eu sei... – Ele apoiou-se sobre o balcão à sua frente, encarando-me de perto. – Mas a questão aqui é o que você sabe.
Eu
o encarei impaciente enquanto batucava a madeira velha do balcão com as
unhas. Encarava os dentes afiados do coveiro que agora estava tão
próximo enquanto pensava em como fazê-lo falar...
Num piscar de olhos ele se moveu em minha direção. Sebastian sacrificou seu braço, colocando-o em minha frente no momento em que os dentes do coveiro estavam prestes a alcançar meu rosto. Olhei espantada para o braço ensanguentado do meu mordomo, que ainda sentia as presas afiadas em sua carne.
Num piscar de olhos ele se moveu em minha direção. Sebastian sacrificou seu braço, colocando-o em minha frente no momento em que os dentes do coveiro estavam prestes a alcançar meu rosto. Olhei espantada para o braço ensanguentado do meu mordomo, que ainda sentia as presas afiadas em sua carne.
Undertaker sorriu e afrouxou a mordida, permitindo que
Sebastian arrancasse seu braço do meio de suas presas –não que ele não
fosse acabar fazendo isso, à força ou não. Ele recuou um pouco e sorriu
pra mim, o sangue negro do meu demônio escorrendo de seus lábios...
–Não
vejo sentido em ajudar a dona do corpo no qual tanto quero pôr as mãos.
–ele sibilou sarcasticamente. Logo olhou para Sebastian, que o
estripava com os olhos, e voltou a me encarar – E eu e seu cachorrinho
de estimação aí não somos os únicos que cobiçamos sua alma valiosa, acho
que é inteligente o suficiente para descobrir quem a quer tanto a ponto
de recorrer aos nossos “amiguinhos”...
Após dizer isso Undertaker
piscou para mim e se virou, sumindo sob as cortinas negras detrás do
balcão, era a nossa deixa. Deixei a funerária e continuei caminhando em
silêncio pela calçada, Sebastian me seguia tão silencioso quanto um
morto, podia sentir que sua mente não estava em mim naquele momento, não
diretamente, mas sim nas palavras daquele homem. Depois de alguns anos
de convivência, aprendi a ler meu demônio tão bem quanto uma criança de 6
anos lê um clássico de Shakespeare: apesar de não compreender
totalmente, conseguia absorver uma coisa ou duas.
–My lady pensa
demais em coisas desnecessárias... – Sebastian sussurrou, a voz baixa o
suficiente para que eu o ouvisse apesar dos barulhos do dia-a-dia que
nos rodeava. –Deveria estar pensando em como não ser devorada, mas ao
invés disso está pensando no que se passa em minha cabeça... Devo me
sentir honrado?
Parei e olhei-o por sobre o ombro, Sebastian tinha
um sorriso sarcasticamente sedutor nos lábios e um olhar incendiante
fixo no meu. Apenas sorri e retruquei, antes de continuar caminhando:
–Ao
invés de se meter em minha cabeça, creio que seria mais prudente para
um mordomo como você pensar no meu jantar... – o encarei enquanto
aguardava uma chance de atravessar a rua, logo prossegui. – Ou em como
impedir que roubem a “refeição” que tanto deseja.
Meu demônio
parou ao meu lado e sorriu, um sorriso que expressava bem nosso segredo,
o sorriso de um predador satisfeito em ouvir que ainda tinha controle
sobre sua presa... Atravessamos a rua e ao virar a esquina fomos
surpreendidos por um shinigami. Um shinigami ruivo bem familiar, para
ser mais específica.
–Sebas-chan! –Grell pulou no pescoço do meu
mordomo tão logo o avistou, sendo interceptado e conseguindo no máximo
beijar a palma da mão de Sebastian por sobre a luva. – Eu estava
pensando em te fazer uma visitinha assim que acabasse com meu relatório
sobre o novo inccubus... Will-chan está pegando no meu pé ultimamente
e...
–Novo inccubus? – Sebastian arqueou as sobrancelhas enquanto encarava o shinigami
–Eh?
Sim, ainda não soube? Pensei que fossem atualizados, afinal, você
escolheu acompanhar uma caçadora... –ele bufou com ar superior enquanto
me encarava com desdém – Os shinigamis estão recolhendo muitas almas
danificadas, tiveram a essência sugada por esse inccubus... Todo o
departamento o está caçando mas até agora não fizemos grandes
progressos.
–Compreendo... –Sebastian respondeu pensativo, a mão sob o queixo enquanto sua mente ainda estava distante...
–Bem, creio que esse inccubus não tenha a ver com nossos negócios atuais. Se nos dá licença, nós temos que trabalhar.
Passei
pelo shinigami sem nem olhar para trás e poucos segundos depois
Sebastian também me acompanhou, deixando o ruivo solitário para trás.
Talvez tenha sido grossa, mas as políticas de etiqueta não se aplicam à
shinigamis... Ao menos não no meu ponto de vista e não àquele shinigami
em particular.
–Bem, foi uma viagem perdida. –disse finalmente. – Vamos voltar para a mansão, também quero verificar o estado do Kyro...
–Como desejar my lady...
Sebastian
parou uma carruagem e depois de longos minutos num silêncio que chegava
a ser constrangedor nós chegamos. Comecei a desabotoar meu casaco tão
logo passei pela porta e entreguei-o a meu mordomo, subindo as escadas
em seguida.
Meu ultimo encontro com Kyro não foi dos melhores... E
nada indicava que seria melhor dessa vez. Bati de leve na porta do
quarto onde ele vinha sendo hospedado e logo ouvi sua voz meio distante
permitir minha entrada.
–Kyro? – abri a porta e olhei em volta, nem sinal dele. Apenas algumas roupas e bandagens largadas sobre a cama...
–Luna?
Um minuto... –A voz vinha do banheiro, ele parecia surpreso ao saber
que era eu que estava ali, apesar de estar na minha casa acho que ele
não pensou que depois de tudo eu iria ao quarto dele... A porta do
banheiro se abriu e meu noivo saiu de roupão, julgando pelo nó mal
feito e a parte de cima meio aberta, havia se enrolado às pressas.
Virei-me rapidamente, apesar de não ser nada demais, minhas bochechas
estavam coradas. Não era prudente uma garota ver um homem em tais
condições... –Perdoe-me constrangê-la assim, se puder esperar um minuto eu me aprontarei adequadamente...
Ainda
de costas para ele, comecei a andar de lado em direção a porta.
Gaguejei um pouco enquanto tentava explicar que não era um assunto tão
importante assim e que ele não deveria estar tão a vontade numa situação
como essas...
–Antes de sair... – a voz dele fez com que eu
parasse e prestasse atenção, ainda sem me virar. – Gostaria de avisar
que estou indo para casa hoje. Assim que acabar de arrumar minhas coisas
vou providenciar meu retorno... Creio que não tenho mais nada a fazer
aqui e, apesar de ter sido repentino, agradeço pela estadia e por sua
boa vontade.
Palavras tão formais saíam da boca dele...
Ele
ainda duvidava de mim... Não o culpo, afinal, uma pessoa normal jamais
entenderia a verdade por trás do que ele tinha visto. Essa é a maldição
dos caçadores, jamais serão compreendidos, nem pelos próprios
semelhantes...
Eu finalmente cheguei até a porta, respirei fundo
enquanto girava a maçaneta e soltei um “Foi um prazer, boa viagem de
volta” automático enquanto saía dali. Sabia que assim que chegasse em
casa a primeira coisa que ele faria seria desfazer o acordo matrimonial
feito anos atrás por nossos pais, o acordo que ligaria e garantiria mais
uma linhagem para honrar os nomes gloriosos de nossas famílias... Bem,
falhei em dar continuidade ao sobrenome dos Kyotsu, mas não falharia em
honrá-lo.
Caminhei até meu escritório e praticamente me joguei em
minha cadeira, fechando os olhos e me deleitando no prazer que era estar
sozinha... Tendo minha amostra grátis do que me aguardava quando
Sebastian se cansasse desse jogo de gato e rato e acabasse com a
brincadeira.
–Ele é um demônio, afinal... - Suspirei pra mim
mesma, mesmo com os olhos fechados o rosto do meu mordomo era
perfeitamente representado em minha mente. –Por que estou pensando nisso?
Acho que a cena de agora a pouco com o Kyro mexeu um
pouco comigo... Todos desistiam de mim com uma facilidade assustadora,
Sebastian era o único que se mantinha firme ao meu lado. Nessas horas
prefiro esquecer que estamos presos por um contrato e imaginar que ele
está aqui porque se importa afinal, não sou exatamente um fardo para
ele... Sou?
Abri os olhos e encarei o quadro pendurado do outro
lado da sala: eu sentada em uma poltrona de veludo vermelho, numa versão
muito mais imperiosa e decidida, acompanhada de um Sebastian fielmente
parado de pé ao meu lado.
–Como seremos até o fim... – sussurrei para mim mesma, logo vendo meu mordomo passar pela porta.
–
Parece que temos um baile para ir esta noite... –Sebastian parou sério
ao meu lado, trazia um envelope aberto em uma bandeja de prata.
–Não
desejo sair de casa esta noite Sebastian, envie um presente e invente
uma desculpa plausível o suficiente. Diga que não estava disposta ou que
tinha negócios fora da cidade a resolver... Não sei. –fechei os olhos
novamente e escorreguei um pouco na poltrona, sequer dando atenção à
bandeja que Sebastian aproximava ainda mais de mim.
–Noblesse oblige...–Sebastian disse de forma séria, fazendo com que eu abrisse somente um dos olhos para encará-lo.
Soltei um longo suspiro, ele estava certo. Pra variar.
Conforme
os anos iam passando e eu ia amadurecendo, ia vendo cada vez menos
pontos positivos em fazer parte da nobreza. Os infinitos vestidos e
empregados não me impressionavam mais e até mesmo os bailes já não
passavam de uma obrigação... Será que existia, de verdade, um ponto
positivo nisso tudo?
Sebastian sorriu, certamente se divertindo
com meus pensamentos estúpidos. Fuzilei-o com o olhar e ele apenas
cerrou um pouco os olhos, sorrindo ainda mais levemente com aqueles
lábios finos e frios, seu sorriso nº 17.
–A que horas devo estar pronta? – ajeitei-me na poltrona, preparando-me para levantar.
–O
baile terá início às dez da noite... –ele pegou o convite e começou a
lê-lo, logo assentindo pra si mesmo e prosseguindo. – Um baile à
fantasia para comemorar o aniversário de 18 anos da sobrinha do lorde
Himitsu, lady Roffstader.
Faz sentido eu ser convidada mesmo
depois de tantos anos sem contato com os Roffstader. Com certeza o
senhor Himitsu estava financiando a festa, ouvi que a família da irmã
dele estava passando por dificuldades devido à jogatina do marido...
Aquele velho está me sufocando com uma proposta de aliança empresarial,
apesar de eu estar abrindo uma loja de doces e ele ser dono da maior
fábrica têxtil da cidade, e me convidar para uma festa de família vai
nos aproximar, ao menos é o que ele acha.
–Eu me lembro dela, é
mesmo uma princesinha mimada e mandona desde pequena... –disse por fim.
Levantei-me e tirei a franja da frente dos olhos, logo encarando
Sebastian. –Diga para Marye ir ao meu quarto, já sei do que iremos nos
fantasiar... – Sorri e, antes que Sebastian pudesse me dar a resposta, continuei. –Já
que vai me acompanhar, prefiro que seja vestido a caráter. Além do
mais... –fui caminhando em direção à porta, sendo acompanhada por
Sebastian, que a abriu para mim. –Muitos suspeitos da ultima festa
certamente estarão lá, será a sua chance de diminuir significativamente
nossa lista de pessoas realmente suspeitas...
–Será um prazer
acompanhá-la como seu par, my lady. –ele fez uma reverência sem desviar o
olhar de mim –E fique tranquila, antes que perceba o verdadeiro culpado
estará ao seu dispor.
Apenas assenti e comecei a caminhar para
meu quarto quando ouvi um barulho alto no andar de baixo. Parei e me
virei para Sebastian que estava encarando o nada, concentrando-se em
ouvir o que se passava lá em baixo.
–Sebastian...
–Yes, my lady.
Sebastian
caminhou calmamente em direção às escadas, tinha entendido minha ordem
sem nem mesmo eu precisar dizê-la. Esta é a vantagem de tê-lo como
mordomo e protetor, palavras não são realmente necessárias entre nós...
Alguns
minutos depois, ouvi um barulho ainda mais alto, desta vez parecia vir
do quarto de Kyro. Sequer sabia que ele ainda estava na mansão, então
caminhei com calma e meio distraída até a porta de madeira e bati de
leve, ainda estava concentrada e curiosa no que poderia estar
acontecendo lá embaixo...
–Entre. –a voz dele parecia diferente, estava mais rouca... não sei...
–Só
vim ver se estava tudo bem, ouvi um barulho alto... –evitava olhar nos
olhos dele, imaginei que ele sequer quisesse me ver e aqui estou eu,
perturbando-o novamente...
–Ah, é que... –ele pigarreou – Eu
pensei ter ouvido um barulho e acabei me distraindo e tropeçando no
criado mudo. Sinto muito se lhe preocupei...
Olhei para o criado
mudo, que agora estava caído no chão ao lado da cama acompanhado de uma
luminária quebrada e alguns livros. Kyro foi até lá e se abaixou,
começando a pegar os livros e colocando-os sobre a cama.
–Não se
preocupe com isso, vou pedir para Marye vir limpar isso... – caminhei
até ele, ainda estranhando um pouco sua reação, um conde como ele não se
abaixava assim para limpar as coisas...
–Não precisa, vocês já
fizeram muito por mim nesses dias e sei que eu posso ao menos tirar as
coisas do chão. –ele olhou para mim por sobre o ombro e sorriu, dando
uma piscadela.
Ele se levantou, deixando os restos do que um dia
já fora uma bela luminária vitoriana ainda no chão, e veio até mim,
ficando relativamente perto demais de mim. Ele sorriu e se inclinou um
pouco sobre mim, mas o que ele estava pensando em fazer? Ia mesmo me
beijar depois de ter me dito todas aquelas coisas mais cedo?
–E-err... Kyro? – recuei um pouco, encarando-o, mas ele se inclinou mais.
Depois
disso, tudo aconteceu rápido demais. Ao invés de me beijar, Kyro abriu a
boca, mais do que uma pessoa normal deveria ser capaz de abrir, e
praticamente se jogou em cima de mim. No mesmo segundo senti alguém me
puxar para trás, colocando o braço onde antes estava meu rosto e
recebendo a mordida em meu lugar.
– Há quanto tempo, não é, Loki? –
Sebastian perguntou com a voz mais fria que o normal, um braço ainda
entre as presas do homem à nossa frente e outro abraçando-me pelos
ombros. Pouco a pouco, a forma do que eu achava ser meu noivo foi
mudando, seus cabelos castanhos tornaram-se pêlos negros e seu rosto um
focinho comprido e cheio de cicatrizes. – O que uma escória como você
faz aqui?
O demônio sorriu, só então soltando o braço do meu
mordomo e afastando-se um pouco de nós. Só então pude ver que seu corpo
também sofrera mudanças, seu corpo agora era robusto e coberto de bolhas
repugnantes, acompanhado de patas esqueléticas providas de garras
afiadas.
– Não sabia que estava aqui, akuma... – o demônio rosnou
sarcasticamente– Talvez porque sua essência tenha se tornado tão dócil e
inofensiva... lembro que meu irmão jamais se curvaria para um humano,
ainda mais uma refeição tão podre como essa..
Sebastian rosnou,
logo sorrindo e exibindo seus dentes igualmente pontiagudos enquanto
encarava o outro demônio com seus olhos vermelho-sangue. Ele estava
saindo de si e acabaria com o outro demônio assim que eu piscasse...
–Sebastian...
– segurei-o pela manga do paletó, se ele matasse o demônio antes mesmo
de sabermos mais sobre o que estava acontecendo, não adiantaria nada. E
se ele tivesse a ver com os outros SM’s?
O segundo que deti
Sebastian foi suficiente para que Loki pulasse entre nós e corresse em
direção à janela, pulando e sumindo na floresta. Sebastian me empurrara
para o outro lado do cômodo, tentando me tirar da reta de fuga do
demôdio, logo correu os olhos rapidamente pelo meu corpo, verificando se
eu não tinha me ferido mas, em seguida , seu olhar cuidadoso deu lugar a
um olhar de raiva. Recuei um pouco, caída no chão a alguns passos de
distância do meu mordomo.
– Não saia daqui. – Sebastian rosnou –
Ele não era um simples SM. Era um demônio que te encontrou, conseguiu
passar por mim e agora pode voltar a qualquer momento para terminar o
que veio fazer.
Sebastian se levantou e pulou pela janela
quebrada, acompanhando o rastro daquele que ele chamava de Loki e
adentrando a floresta. Eu continuei caída no chão, atordoada com tudo o
que tinha acabado de acontecer, encarando o que restara da janela.
–My lady? Eu ouvi um barulho, a senhorita está aqu-
Marye gritou assustada, correndo para me socorrer enquanto tentava entender em sua cabecinha inocente o que tinha acontecido.
Os
últimos raios de sol do dia invadiam o quarto pela janela quebrada e
batiam bem nos meus olhos, cegando-me momentaneamente... Fechei os
olhos.
Eu estava assustada demais para explicar e tonta demais
para olhar para ela e acalmá-la. Então eu só repousei em seus braços
magricelas e agitados e continuei muda, a mente distante, por que me
queriam morta? Por que me perseguiam tanto ultimamente?
Quanto tempo mais Sebastian aceitaria me proteger antes de se juntar a eles?
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